A 17ª Vara da Justiça Federal no Ceará, situada em Juazeiro do Norte, comemorou na última sexta-feira, dia 15 de setembro, um ano da sua inauguração. Sob a forma de Juizado Especial, com o objetivo primordial de garantir à população do Cariri acesso fácil e eficaz aos serviços da Justiça Federal, esta vara recebeu mais de 21 mil processos e passados doze meses, conta com mais de 10 mil destes já julgados, resultando na expedição de ordens de pagamento em valor superior a R$ 2.300.000,00 (dois milhões e trezentos mil reais) para a região. "Estamos orgulhosos com os primeiros resultados obtidos, fruto, principalmente, dos esforços empreendidos pelos funcionários que prestam serviços nesta vara, que se revelaram sentinelas incansáveis da Justiça Federal", afirma o Juiz Titular da 17ª Vara, Sérgio Fiúza Tahim de Sousa Brasil.
Abaixo texto comemorativo de autoria da Juíza Substituta da 17ª Vara Federal, Paula Emília Aragão de Sousa Brasil
"A Estrada"
"O caminho para Juazeiro do Norte parecia longo naquele setembro, mas seguimos. Saímos de casa com muitas incertezas e a distância que separava a capital do cariri foi nos revelando, em paisagens, seus contrastes. Parecia que estava a nos repetir, silenciosamente, que é assim mesmo a vida: o belo e a miséria, a fé e a desilusão, a fome e a exuberância; e para além de tudo isso, uma estrada, impassível, esperando por uma pessoa que a ouse seguir. Decorrido agora um ano daquela viagem, alguém que me pede para falar de impressões pessoais, desafios, dificuldades e perspectivas. Emociono-me fortemente. Em um átimo de segundo, percebo que sou instada a falar sobre aquele que vem a ser, até agora, o ano mais feliz da minha vida. Saí de casa para contribuir na instalação de uma vara federal. Uma unidade, que, sob a forma de Juizado Especial Federal, fora concebida para atender uma sorte de gente que sempre ansiou por Justiça. Justiça para seus braços cansados, que não sustentam mais o peso da enxada. Justiça para sua pele, cujas linhas o sol traçou muito antes do esperado. Justiça para a doença, para a velhice, para a desesperança de quem, embora apresentando ao juiz seu grande fardo e seu forte pesar, ouve, repetidas vezes, que sua história não passa de uma pequena causa. Porém, em meio a essa ínfima contribuição que pretendia dar, Deus (ou quem sabe a vida, para aqueles que Nele não crêem) concedeu a mim infinitamente mais: deu-me a graça de ver nascer uma família, duas vezes. A primeira, quando nós, juízes daquela vara, marido e mulher, nesse dito ano, vimos nascer nossa filha, Sofia. A indescritibilidade de uma felicidade assim, cala-me. O que haverei eu de dizer, quando sentir já é muito mais do que se pode imaginar? A segunda, quando de novo nós, juízes daquela vara, agora titular e substituta, assistimos a revelação dos muitos talentos que nos foram enviados para ajudar na construção daquele pequeno sonho de Justiça. Chegaram aqui talvez com algumas das mesmas incertezas que nós. Mas, de fato, a preciosidade daqueles talentos humanos era tamanha e a dedicação foi tanta, que contra todas as expectativas e apesar de toda dificuldade, assistimos com intensa alegria e não sem algum orgulho, ao julgamento de mais de 10.000 processos e a emissão de ordens de pagamentos ultrapassando o montante de dois milhões e trezentos mil reais, no espaço de tempo de um ano. A engrenagem estava funcionando. Aos donos destes talentos chamamos mais comumente de servidores da Justiça, e que designativo mais feliz e mais nobre poder-se-ia lhes dar! Chamo a esta outra também de família, porque resultados assim não se alcançam sem uma forte união de todos e um firme compromisso com os ideais de solidariedade e de Justiça Social. Princípios. Valores. Atitude. Aquilo que se aprende no seio de uma família. Preciso dizer também de algumas pessoas que, mesmo sem integrar o quadro da Instituição, também acreditaram na boa-fé de quem trabalha e tiveram participação decisiva na obtenção dos resultados hoje comemorados. Não é fácil aceitar a chegada do novo, principalmente quando este novo traz consigo a necessidade de mudança de comportamentos sedimentados. Foram muitas as vezes que estas pessoas souberam compreender - e até mesmo resistir - no momento certo e da forma mais adequada. Falo dos advogados, públicos e privados, dos jurisdicionados e de todos que se viram envolvidos no projeto, em maior ou menor grau. Sintam-se lembrados e reconhecidos. De verdade. Precisaria eu também falar das dificuldades e dos desafios. Pois bem. Existiram muitíssimos, existem muitos e existirão ainda e sempre. É só o que me limito a dizer. Já pensei demais sobre eles e cheguei à conclusão de que podemos conviver. Eu e eles. Ora vencendo, ora sucumbindo, mas convivendo. De minha parte, sem maiores pretensões. Afinal de contas, se há uma coisa na qual não vale a pena nos deter é nas dificuldades. O brilho da lua não se ofusca por um grão de areia. Ao contrário, deita-se resplandecente sobre as águas do mar, permitindo assim que o grão sinta seu regojizo. Quanto ao mais, a mim, cumpre-me apenas seguir. Essa é a minha perspectiva. Sigo fazendo o que me é permitido e esforçando-me para que me seja permitido muito mais. Sonhando sempre e ficando feliz ao surpreender- me com a força desses sonhos."